O Fantasma de Queijo Suíço.
O ano era 1995. Uma pequena criança de cabeça oblonga se prepara para dormir. Porém, na pequena casa de dois cômodos, o banheiro se situava no lugar mais inatingível de uma noite escura e fria: o outro lado do quintal. O tal local se tornou essencial para a pobre criança naquele momento, para evitar qualquer acidente úmido no decorrer da noite. Sua mãe, a Velha Paupérrima, era a única que se atrevia a desafiar a ventania noturna e se arriscar na longa jornada de três metros até o cubículo sanitário para levar sua cria.
Era quase meia-noite. Nenhum ronco de motor de ônibus ou briga de vizinhos era ouvida. Como de praxe, a figura materna coloca seu filhote no colo e inicia a difícil missão de levá-lo ao sanitário para fazer suas necessidades de ser vivo. Mas, como toda missão, obstáculos haviam de aparecer. Eis que surge o pior pesadelo do humanóide de quatro anos.
Usualmente, um velho lençol amarelo e furado era lavado pela velha mulher e colocado no varal para secar no decorrer da noite. Mas o que nem mesmo a guerreira senhora sabia era que, na obscura madrugada, o tal retalho de pano não continuava a ser o que era. Ocorria uma horrível metamorfose, que o transformava no pior ser já visto em vida por alguém: o Fantasma de Queijo Suíço.
Essa tal figura, não contente em ganhar a vida na Terra todas as noites em que era estendido no varal, tinha como passatempo preferido atormentar a criança horrenda habitante da modesta casa. Como o tal garoto era o único que podia vê-lo, o maroto fantasma sabia o que fazer. Toda vez que mãe e filho saíam para atravessar o quintal, o Fantasma não hesitava em soltar seu mais tenebroso grito de agonia. Uma facada de medo e desesperança atravessando a espinha da criança, o grito era inconfundível. Era muito similar a gritos nupciais de dois gatos, por incrível coincidência. Mesmo sendo feito inteiramente de queijo suíço, por causa de seus furos; o ser sobrenatural se tornava totalmente fluorescente sob a luz lunar. Não havia escapatória. O Fantasma de Queijo Suíço era imbatível e imortal. Ao pobre garoto, só restava a última opção de defesa de todo ser humano: o choro incontrolável.
A senhora, atordoada pelo medo de seu filho, só podia fazer uma coisa: enfrentar o tal monstro. Era simplesmente uma batalha horrível. A distinta amazona atacava o ser com toda sua força e ambos rolavam lutando pelo ar. Favorecido pela força do vento, o maldito Fantasma atacava a guerreira se enrolando em seu corpo. Porém, para sua surpresa, a dama utilizava a milenar técnica doméstica de "Extração de Prendedor de Roupa". Era o golpe fatal do monstro. Fraco e já sem nenhuma força, a criatura podia ser facilmente dobrada e confinada à sua eterna prisão: o cesto de roupas para passar. Ali acabava todo o medo daquela casa, e mais uma tranqüila noite podia ser desfrutada. A única coisa ruim de tudo isso era quando o lençol sujava novamente e, após lavado, tinha que ser estendido no varal mais uma vez. E todo o drama começava.
Baseado em fatos reais.