quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Eu quero nadar sem rumo, mas não sei como.

Caro Guilherme do Futuro,

Há tempos que tudo isso foi esquecido como o seu arquivo de bons e/ou grandes momentos da sua vida.
Não foi fácil nesse tempo te atualizar de tudo o que rolou (até porque muitas coisas aconteceram).
Antes de qualquer novidade, eu gostaria que você lembrasse quem já foi um dia.

É totalmente fora da realidade compreender quem você é hoje, aí no futuro, e comparar com o humano que você era num passado próximo.
Eu já me espanto agora, e muito provavelmente você se espanta ainda mais na sua situação.

Não existia a mínima vontade de seguir adiante em seus sonhos, ou simplesmente o desejo em que algo melhorasse. Aliás, corrigindo o discurso: não existiam sonhos.
Não existia sequer a mais tenra noção do que lhe causava pavor, revolta e desânimo. Você tampouco tinha a pretensão de descobrir quem era você de verdade. Bastava saber que tudo continuaria a mesma coisa.
Não era culpa sua.
Hoje você sabe disso, e sabe o quanto isso doeu na época.

Vamos passar rapidamente pelos fatos.

Sem saber ao certo o porquê, você decidiu um dia não viver mais. Isto não no sentido físico-químico (ok, surtos de desespero não contam), mas na sua essência. Você queria simplesmente deixar de ser o guilherme, e tornar-se de vez um Guilherme. Não era óbvio ainda quem seria essa nova pessoa, mas você ousou arriscar.

Você mergulhou em oportunidades que apareceram até então sem razão e, mesmo parecendo loucura, foi em frente. Aliás, tudo não só pareceu loucura, como de fato foi.

Você conheceu coisas novas. Você conheceu pessoas novas. Você fez coisas novas.

Eu lembro, Guilherme, que você quis desistir inúmeras vezes. Claro, este desejo interno de sabotar-se era apenas um reflexo de tudo o que você aprendeu até então. Chegava a ser compreensível você querer abrir mão, afinal, pra quê mudar? Pra quê ter que carregar mais responsabilidades, se o mundo que você carregava nos ombros já não era leve e agradável?
Você sempre foi muito teimoso, Guilherme. Extremamente teimoso. E eu odeio isso em você em uma escala colossal. Mas, devo assumir que graças a este defeito você está aí hoje.

Será que a sua teimosia não é apenas o medo do fracasso? Será que tudo isso não foi apenas uma corrida desesperada para não repetir os mesmos erros que o seu ninho cometeu?

Lembra-se de quanta gente passou por você?
Alguns naturalmente se desprenderam do seu caule. Foram folhas mais fracas que fizeram suas próprias escolhas.
Outros, passaram correndo, feriram suas raízes e nunca mais olharam para trás. Agradeça muito a estas pessoas. Graças a elas você aprendeu que tudo o que é valioso deve ser muito bem protegido sob a terra, onde ninguém possa lhe ferir gravemente.

 E também houve aqueles que pousaram em seus galhos para extrair tudo o que você pode oferecer de bom. Isto foi tão gratificante a eles, que como recompensa decidiram enfeitar a sua vida.

Você errou. Puta que pariu, como você fez merda.
Você fez coisas ruins. Novamente, não foi culpa sua, mas fez.
Você descobriu que as pessoas mentem. Mentem tanto que não se sentem culpadas disso.
Você descobriu que, não importa onde você estiver, irão desejar o seu mal. Não porque você tenha razões para ser invejado, mas porque simplesmente a maldade existe.

 E você descobriu, em uma das piores formas possíveis, que o mundo é cruel. Transcendendo todo o seu senso comum da adolescência, você entendeu de verdade que aqui não presta.
E mesmo assim, você quis continuar.
Por que, Guilherme?

Hoje, de verdade, eu não consigo entender. Sei que, onde você está, tudo já foi explicado e resolvido. Me dá uma enorme curiosidade e ansiedade saber as respostas disso. Mas você me ensinou uma vez que tudo tem o seu tempo.

Eu confio em você. Sei que tudo vai melhorar.

Eu prometo não te deixar mais na mão.
Prometo que vou fazer de tudo para que você seja feliz.
Prometo que todas as suas boas lembranças serão registradas. E até mesmo aquelas que não forem lá tão boas, eu sei que riremos delas um dia.

É estranho dizer isso, Gui, mas pela primeira vez eu assumo: eu te amo.

Me espere.
Me encontre no seu futuro, Guilherme.

Um forte abraço,

Guilherme

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